A Caixa de Livros
EDITE GALOTE CARRANZA
RICARDO CARRANZA
A rigorosa racionalidade, deduzida de exigências objetivas de contrato quanto à exiguidade de prazos e custos, ordena o processo de projeto da biblioteca PUC de Campinas.
A solução plástica, fundada na forma pura, pode ser decantada em um volume tripartido: dois paralelepípedos cerrados, que abrigam o espaço do acervo, rasgados pela transparência do volume central que concentra acessos, serviços, circulações verticais, iluminação e ventilação naturais. Do ponto de vista da percepção dos espaços internos, entretanto, há total integração devido à transparência dos elementos estruturais, vazios centrais e ausência de vedações.
O volume prismático perfaz 71.00m com vãos de 45,00m e balanços de 13,00m, vencidos por vigas treliçadas de aço, no sentido do eixo longitudinal. A projeção do edifício recuado de suas bases, no eixo norte-sul, prioriza a relação com a esplanada do campus, pois nessas faces estão localizados a caixilharia, varandas e acessos.
A distinção plástica das estruturas, definida por mesas de concreto armado aparente, sobre as quais pousam perfis de aço pintados, dotou o projeto da consistência adequada à sua escala; a transição valoriza a leveza da ossatura metálica em contraste com a robustez dos pilotis produzindo uma noção de equilíbrio entre estática e estética.
A preocupação com a economia de meios justifica a disposição das funções em réguas contíguas que correspondem ao arranjo das estantes nas alas laterais e ao núcleo de leitura e consulta. Ao eixo horizontal das funções articula-se, por adição, a seção transversal cujo desenvolvimento gera a estrutura longilínea do projeto. Dessa lógica podemos inferir o ritmo serial de vigas treliçadas de módulos 3.75m X 3.75m que montadas no segundo piso atirantam as lajes treliça do primeiro piso.
A ventilação e iluminação naturais foram resolvidas mediante grelhas de piso e lanternim com plano refletor. A ventilação natural ocorre por convecção – ou sistema de “chaminé”: o ar entra pelas grelhas dos pisos, passa pelos vazios centrais dos pavimentos e sai pela caixilharia do lanternim, que responde também pela iluminação.
A vedação do edifício foi resolvida com painéis de concreto pré-fabricados, módulos de 2.50m X 3.75m X 0.13m, apoiados às peças metálicas horizontais e contraventados às peças verticais; os painéis possuem revestimento de granilha dourada protegida por película hidro-repelente Dryseal, e sobrepõem-se a placas de poliuretano de 30mm aplicadas ao concreto. Internamente, painéis de gesso acartonado, soltos da vedação externa, criam uma camada de ar adequada à redução da transmissão de calor nas faces leste e oeste.
A cobertura é de telhas de aço pré-pintadas de chapas duplas de 0.8mm e 30mm de poliuretano apoiadas à estrutura de aço contraventado; o tratamento térmico acústico sob a cobertura foi resolvido mediante a aplicação de película “Underseal” sob a telha e adoção de forro de chapas duplas de gesso acartonado com placas de poliuretano de 30mm.
Em um tempo em que recursos ambientais são condicionantes inseparáveis da arquitetura, a biblioteca PUC-Campinas filia-se, a nosso ver, ao movimento moderno; entendendo-se moderno não como datado, mas como postura projetual consciente do que o movimento possui de permanente, ou seja: racionalização dos sistemas, economia de meios, recurso à tecnologia industrial.
O escritório Piratininga traz a máxima de Giulio Carlo Argan, sobre a arquitetura moderna, à síntese da sua solução: mais do que um modo de pensar, a racionalidade é um dever.
FICHA TÉCNICA
Pontifícia Universidade Católica de Campinas
Biblioteca Central
Local: Campus II, Av. John Boyd Dunlop, s/ nº – Campinas – SP
Data de projeto: junho a dezembro de 2004
Data de conclusão da obra: março de 2005
Área construída: 3164 m²
PROJETO
Arquitetura: Piratininga Arquitetos Associados – José Armênio de Brito Cruz e Renata Semin (autoria); Fabiana Terenzi Stuchi (coordenação de equipe), Joana Maia Rosa Rojo, Juliana Gomes Trickett e Juliana de Araújo Antunes (colaboração); André Álvares Cruz Procópio e Davi Lemos de Moura Lacerda (estagiários).
Fundações: Cepollina Engenheiros Consultores
Estrutura:
Biblioteca: estrutura de concreto TECA Engenharia; estrutura metálica: Grupo Dois Engenharia
Ambulatório de Fisioterapia: estrutura de concreto Aluízio A. M. D’Ávila & Associados; estrutura metálica: Grupo Dois Engenharia
Instalações elétricas e hidráulicas: TGR Engenharia
Projeto de ar condicionado:
Biblioteca: Isotherm Ar Condicionado
Ambulatório de Fisioterapia: BTU Condicionadores de Ar
Consultoria de conforto ambiental: Ambiental
Paisagismo: Koiti Mori e Klara Kaiser Arquitetos Associados
AUTORES:
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