CECAP: Detalhe 1:1
EDITE GALOTE CARRANZA
RICARDO CARRANZA
“O urbanista quase não se distingue do arquiteto.
[...] Na fase do ato criador, arquiteto e urbanista são um só”.
Le Corbusier
Localizado no município de Guarulhos, às margens da Via Dutra Km 73, o Conjunto Habitacional Cecap “Zezinho Magalhães Prado”, é um paradigma da habitação de interesse social.
O projeto de 1967 sintetizou conceitos de funcionalidade, racionalidade e ideais sociais democráticos que moveram arquitetos e urbanistas modernos. Sintonizado com o ideário nacional-popular, motor da cena cultural dos anos de 1960, no sentido de suprir carências do povo por uma habitação digna na qual o usuário não seria entendido de forma abstrata, frente à nova política do setor habitacional de cunho tecnocrático e tendência à massificação. O projeto foi financiado pelo BNH, instituição criada para equacionar um déficit de 8 milhões de habitações. A década foi marcada por grandes discussões sobre os rumos da construção civil brasileira, pois havia um impasse político-ideológico entre a industrialização dos processos e a manutenção do sistema construtivo convencional que garantiria emprego à uma mão-de-obra desqualificada migrante do meio rural ao urbano.
O Cecap seria um imenso empreendimento que ocuparia área de cerca de 178 ha para uma população de 55 mil hab. com renda de 1.5 salário-mínimo. Durante o longo processo de implantação, o empreendimento teve alguns obstáculos: foi executado em morosas etapas; o sistema de pré-fabricação inicial foi alterado para sistema convencional nas primeiras etapas e depois retomado nas últimas; e o programa do conjunto foi reduzido pela metade. Contudo, graças à perseverança dos arquitetos-professores, a qualidade do projeto foi garantida da escala urbana ao detalhe.
Concebido como protótipo, o Cecap atendeu a um amplo programa com comércio, centro educacional, centros comunitário e de saúde, estádio, áreas verdes e unidades habitacionais de 64m2 distribuídas em blocos de três pavimentos sobre pilotis. A implantação segue o conceito de “freguesias” – termo caro aos arquitetos por resgatar valores da cultura nacional – mediante blocos, escola primária e comércio local.
Em 1972 a primeira etapa foi construída com sistema convencional de pilares e lajes nervuradas de concreto armado e blocos de concreto. Tendo como meta a economia de meios o projeto foi rigorosamente detalhado. As unidades que seguiram os conceitos de “casa mínima” e “planta livre” possui divisórias leves internamente e paramentos verticais no eixo longitudinal que definem armários e caixilhos modulares com dimensões generosas. O detalhe é significativo, pois denota o compromisso com a qualidade da iluminação e ventilação, racionalização dos espaços, além da preocupação com economia de custo na aquisição de mobiliário pelos usuários. A solução garantiu que a casa do povo recebesse igual tratamento à casa burguesa.
Hoje as freguesias tornaram-se condomínios fechados sem a livre permeabilidade sob os pilotis. Entretanto, os apartamentos são valorizados e até disputados segundo os corretores locais. E como anteviu Artigas, a população original foi substituída pela “pequena burguesia urbana”.
Autores:
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Ficha Técnica:
Projeto: João Batista Vilanova Artigas, Fábio Penteado e Paulo Mendes da Rocha
Arquitetos colaboradores do Escritório técnico CECAP: Arnaldo Martino, Geraldo Vespasiano Puntoni, Giselda Viscondi, Renato Nunes e Ruy Gama.
Concepção cromática das fachadas: Fábio Penteado e Maria Giselda Viscondi
Coordenação dos projetos de implantação: arquiteto Stipan Milicic
Gerenciamento geral das obras: engenheiro L.A. Falcão Bauer e arquiteto Alfredo Paesani
Projeto estrutural: J.C. de Figueiredo Ferraz
Proprietário: Caixa Estadual de Casas para o Povo – Cecap
Financiamento: Banco Nacional da Habitação – BNH
Publicado originalmente em: Revista AU, n. 252, fev./2015
http://au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/251/cecap-zezinho-magalhaes-prado-um-detalhe-11-338509-1.aspx Acessos: 10107