Arquitetura do lugar: a rua como espaço de convivência

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23 SUL ARQUITETURA

O partido arquitetônico apresentado adota como principal elemento estruturador a constituição de uma rua interior, partindo da Praça Francisco de Paula Lopes, conectando-a com a Área de Preservação Permanente (A.P.P.) presente no fundo do lote em questão. Como extensão dessa rua, sugere-se a construção de uma ponte ao longo da praça, potencializando a integração entre o SESC e suas adjacências.

 O conceito parte das boas práticas presentes no edifício do SESC Pompéia (com sua rua aberta conectando o público) e do Centro Cultural São Paulo (cuja relação com a topografia torna seus espaços sempre francos e abertos à rua). 

Mantendo-se paralela à topografia original do terreno, hoje aterrado, a Rua Interior conecta duas grandes áreas verdes dotadas de cursos d’água. Funcionando como “ambiente-elo”, a rua interior é acompanhada por um curso d’água artificial em toda sua extensão, ligando os dois sistemas presentes nas duas extremidades do terreno, estendendo-os para dentro do SESC Limeira. Realizando a captação das águas da chuva do conjunto para reuso, esse elemento traduz para o espaço do SESC a importância da preservação dos córregos e da mata ciliar em suas adjacências. Além disso, a vegetação aquática presente no projeto paisagístico realiza processo de fitorremediação das águas, melhorando sua qualidade de forma sustentável.


Ao organizar o projeto através de uma via de circulação, o partido arquitetônico possibilita a convivência e a sociabilidade entre os usuários, num jogo que busca fomentar princípios de cidadania e democracia no uso dos espaços. Todos os programas têm seu acesso – ou ao menos são vistos – a partir da Rua Interior, tornando-a um elemento centralizador, de onde o usuário pode apreender a totalidade das atividades realizadas.
Não há, como em um edifício vertical, atividades escondidas dos olhos daqueles que passam; os espaços se tornam receptivos, auto orientados. Suas dimensões são contidas, proporcionais à escala humana, criando também um microclima adequado ao ambiente quente e ensolarado da cidade, que contrasta com os grandes espaços espraiados presentes no entorno. Por estar alinhada com o Norte, a Rua Interior recebe ao longo de todo o dia porções de sombra projetada pelos próprios edifícios, que alternam de lado ao longo do dia.

 

 

A Rua Interior divide o lote em duas porções assimétricas. Na primeira, mas estreita, foi posicionado o “Pavilhão de Atividades”, onde programas diversos de menor área se distribuem, agrupados por tipologia, de acordo com suas necessidades. Por conta de sua proporção estreita, todos os ambientes possuem duas fachadas iluminadas e ventilação cruzada, permitindo melhores condições de conforto aos ambientes. Na segunda porção, mais larga, junto à Via Luis Varga, foram posicionados os programas que ocupam mais área: Teatro, Ginásio e conjunto de piscinas. Cada um desses programas foi abrigado por um volume autônomo, criando entre eles alargamentos da rua em forma de praças. Todo o conjunto é conectado por uma marquise, que serve de abrigo para a chuva e o sol forte, enquanto que no pavimento superior, no nível da Rua João Ciarrochi, o mesmo elemento se transforma em uma varanda com vista privilegiada para a copa das árvores da Rua Interior o Vale do Ribeirão do Tatu. Tais áreas livres são parte fundamental do partido. É através delas que são distribuídos os programas da unidade, tornando o espaço livre aberto, altamente permeável, tornando o edifício aberto ao diálogo.

A separação do programa em volumes espalhados ao longo do SESC abre o edifício de forma franca à comunidade vizinha ao edifício: preserva-se a vista para o vale hoje existente na Rua J. Ciarrochi, permitindo também a conexão visual direta das atividades da unidade desde o domínio público. É a partir da separação desses volumes que se abre a conexão – hoje existente – entre a Via Luis Varga e a Rua J. Ciarrochi. Ela cria um segundo eixo, transversal à Rua Interior, que complementa a malha urbana do bairro em uma quadra de grande extensão. Todos os níveis do edifício são térreos, cada um com seu acesso próprio para a rua. No entanto, é no cruzamento desses eixos que foram posicionados dois elevadores para o público e as escadarias que dão acesso ao estacionamento e ao nível superior.

Quanto à composição arquitetônica, a fragmentação do programa em volumes independentes é fundamental para preservar a escala do bairro, com gabarito baixo e construções pouco extensas. O envelope de policarbonato, que mantém a mesma altura nos três volumes que se voltam à avenida, é fundamental para dar unidade ao conjunto. 

No pavilhão de atividades – no nível superior – a correspondência volumétrica dos grandes volumes é rebatida nos espaços de pé-direito duplo e nos programas ali posicionados. A cota do topo desses volumes também corresponde à altura do envelope de policarbonato.

Arquitetura do Programa

A distribuição do programa ao longo da Rua Interior tem papel estruturante fundamental para a unidade. Em suas duas extremidades foram posicionados programas de forte atratividade, de modo a torná-la dinâmica e movimentada. Junto ao acesso, foram posicionados frente a frente café, convivência e auditório em um conjunto que envolve a rua em ambos os seus lados. Na sequência estão posicionados os demais equipamentos socioculturais, culminando com o galpão expositivo próximo ao cruzamento com os acessos transversais. Na outra extremidade, ao fundo, foram posicionados os programas de saúde e nutrição: refeitório ea clínica odontológica, trazendo para o interior da unidade usuários não envolvidos com atividades esportivas e culturais. Em meio a esses
programas foram distribuídos os programas físico-desportivos de grande escala: ginásio e piscinas, com seus respectivos vestiários. Vale destaque a posição da piscina descoberta: diante do refeitório e rebaixada em relação ao final da rua, seu desenho se mistura com a massa arbórea verde da APP, aproximando-a visualmente do cotidiano da unidade.

 

Na extremidade da rua, junto à A.P.P. encontra-se a área de instalações interativas com o público, cuja função principal seria conscientizar os usuários acerca da preservação das nascentes, córregos e outros recursos naturais. Além da contínua ligação proporcionada pela rua, os três grandes volumes também se articulam entre si através das praças intermediárias. O fundo da caixa cênica se abre para a praça atrás do auditório,
possibilitando a ocorrência de shows ao ar livre para cerca de 5.000 pessoas. Essa capacidade pode aumentar ainda mais se contarmos com a área do ginásio coberto que, permeável em suas extremidades, permite a comunicação entre as duas praças ao seu redor. A piscina coberta, apesar de controlada, possui fachadas transparentes no nível do piso, tornando seu espaço visível para usuários de passagem, que podem enxergar também a piscina descoberta. Dessa forma, ao menos teoricamente, da plateia é possível enxergar a A.P.P., em uma franca conexão visual entre os espaços.

O pavimento superior recebe – além dos espaços de pé-direito duplo da porção sociocultural – o restante do programa físico-desportivo: praça de jovens, quadra descoberta, ginástica multifuncional e demais salas de atividades físicas. Posicionada de forma central, nesse nível também se encontra a gerência da unidade. Por fim, abaixo do nível da Rua Interior, no nível da Via Luis Varga, encontra-se o estacionamento, as docas do auditório e refeitório, bem como as áreas técnicas destinadas ao funcionamento e manutenção da unidade.

Arquitetura da Construção

As escavações realizadas no terreno foram otimizadas ao máximo, partindo-se das premissas de horizontalidade e manutenção de acesso em nível. A escavação do subsolo é interrompida antes de chegar na Rua Interior, garantindo a ela contato direto com o solo natural. Dessa forma o principal muro de arrimo do projeto fica longe das divisas do terreno. Além disso, a movimentação de terra realizada entre o nível da rua interior e o nível superior é solucionado com talude. Em contrapartida ao inevitável desmatamento realizado para que fosse possível movimentar o solo, as diversas áreas verdes da unidade receberão a necessária compensação ambiental. Casos de replantio de espécies nativas presentes no terreno também deverão ser considerados. Além do sistema de captação de água da chuva para reuso da Rua Interior, Painéis de aquecimento de água na cobertura da piscina realizam o aquecimento da água dos chuveiros e fazem o quebra-gelo da piscina descoberta. Do ponto de vista estrutural, o edifício possui estrutura mista. Sobre um embasamento em concreto no nível da garagem, os pavimentos superiores serão construídos com estrutura metálica leve, de vãos de pequena dimensão, modulados a cada 5m, refletindo em economia financeira. Quanto a paleta de materiais, além do policarbonato que reveste os volumes principais, o edifício conta com forros de madeira, painéis de vidro nos vãos e vedos compostos de painéis industriais que possibilitam uma obra mais limpa e rápida. Os pisos das áreas comuns recebem placas cimentícias tipo “Concresteel” – ou similar –, drenante nos momentos onde há contato direto com o solo.

Projeto:
PROPOSTA ARQUITETÔNICA PARA A FUTURA UNIDADE LIMEIRA
Concurso: CONCURSO – O 01/2017
Assunto: MEMORIAL CONCEITUAL
Folha n.º  4 / 5
Código de inscrição: 28D6C41AEC1D1A44


Tabela de áreas

NÍVEL RUA JOÃO CIARROCHI – 565,20
AUDITÓRIO

ENSAIOS...............................................187 m²
CABINE E CIRCULAÇÃO......................169 m²

 

PAVILHÃO DE ATIVIDADES
CONVIVÊNCIA........................................95 m²
BIBLIOTECA............................................55 m²
GINÁSTICA MULTIFUNCIONAL..........250 m²
PÇA. LIVRE JOVENS (COBERTA)........51 m²
LOJA SESC.............................................10 m²
SALA APOIO TURISMO SOCIAL............25 m²

 

GINÁSIO POLIESPORTIVO
GERÊNCIA...........................................325 m²
TÉC. ESPORTIVOS................................69 m²

CONJUNTO AQUÁTICO
ATIV. FÍSICAS......................................206 m²
CIRCULAÇÃO SOB MARQUISE.........957 m²

ÁREAS DESCOBERTAS...........1.997 m²
PÇA. LIVRE JOVENS...........................143 m²
PÁTIO LÚDICO..................................1.201 m²
CIRCULAÇÃO DESCOBERTA.............653 m²

 

NÍVEL RUA INTERNA – 560,40
AUDITÓRIO

FOYER..................................................172 m²
PLATÉIA................................................179 m²
PALCO/ COXIAS...................................437 m²
CAMARINS............................................187 m²
SANITÁRIOS E CIRC............................253 m²

 

GINÁSIO POLIESPORTIVO
GINÁSIO.............................................1.208 m²
VEST. GINÁSIO.....................................392 m²

CONJUNTO AQUÁTICO
VEST. PISCINAS E EXAME MÉDICO...377 m²
CONJ. AQUÁTICO COBERTO...........1.197 m²

PAVILHÃO DE ATIVIDADES
CAFETERIA............................................61 m²
CONVIVÊNCIA.....................................382 m²
EDUC. FLEXÍVEL.................................128 m²
INTERNET............................................128 m²
BIBLIOTECA...........................................64 m²
OFICINAS CULTURAIS........................126 m²
EXPO....................................................256 m²
ATENDIMENTO....................................119 m²
CLÍNICA ODONTOLÓGICA..................411 m²
COMEDORIA........................................601 m²
APOIO INFANTIL INTERNA...................59 m²
APOIO PAIS............................................20 m²
INTERAÇÃO PÚBLICO.........................111 m²
CIRCULAÇÃO SOB MARQUISE.......1.106 m²

 

ÁREAS DESCOBERTAS..........6.750 m²
PQ. AQUÁTICO DESCOBERTO......1.111 m²
PQ. LÚDICO INFANTIL.......................200 m²
CONVIVÊNCIA ABERTA.....................286 m²
REMANSO...........................................321 m²
PRAÇA DE EVENTOS........................488 m²
CIRCULAÇÃO DESCOBERTA...........873 m²
ÁREAS PLANTADAS.......................1.801 m²

 

NÍVEL VIA LUÍS VARGA – 554,00
RESERV. POTÁVEL INFERIOR............38 m²
ETE ......................................................162 m²
GERADORES ........................................75 m²
DEP. LIXO ...........................................211 m²
TRANSFORMADORES .......................112 m²
DESCANSO FUNC. ...............................87 m²
MANUT. PREDIAL PAISAGISMO .........96 m²
BICICLETÁRIO ....................................134 m²
CASA DE MÁQUINAS .........................124 m²
ALMOX. GERAL ..................................132 m²
DEP. BENS PATRIM. ..........................136 m²
POÇO ARTESIANO ...............................25 m²
CFTV ......................................................24 m²
GUARITA ...............................................25 m²
APOIO LIMPEZA ...................................25 m²
APOIO RH .............................................28 m²
VEST. FUNC. ......................................306 m²
VEST. COZ. ..........................................94 m²
DOCAS .................................................34 m²
ESTACIONAMENTO ........................4.390 m²
RESERVATÓRIO DE REUSO...............150m²
CIRC. VERTICAL .................................139 m²
CORREDOR TÉCNICO PISCINAS.......900 m²
DEPÓSITO AUDITÓRIO (3,5m acima)..300m²

 

ÁREAS DESCOBERTAS............... 70 m²

 

PARACICLOS ....................................... 70 m²

 

RESUMO -ÁREAS COBERTAS

AUDITÓRIO......................................1.5844 m²
GINÁSIO POLIESPORTIVO............... 1.994m²
CONJUNTOAQUÁTICO.................... 2.737 m²
PAVILHÃO DE ATIVIDADES..............4.023 m²
TÉCNICAS E CIRCULAÇÃO..............7.817 m²

 

SUBTOTAL ÁREAS COBERTAS....18.155m²
ÁREAS DESCOBERTAS ..................8.747 m²
TOTAL.............................................26.902 m²

NOTA: MEMORIAL CONCEITUAL APRESENTADO EM CONCURSO

 

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Como citar: 

23 SUL ARQUITETURA. Arquitetura do Lugar: a Rua Como Espaço de Convivência. Revista 5% arquitetura + arte, São Paulo, ano 13, volume 01, número 16, pp. 100.1- 100.7, ago. dez. 2018. disponível em: http://revista5.arquitetonica.com/index.php/uncategorised/arquitetura-do-lugar-a-rua-como-espaco-de-convivencia

 

 

 

 

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